quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Belo Horizonte - Segunda-Feira

Fui chamado para dar depoimento na delegacia. Estava tranquilo e consciência limpa. Não me lembro de um cigarro ter salvado a vida de alguém, mas aquela merdinha ali me salvou. Confesso que fiquei nervoso e fumei o maço inteiro em algumas horas. Mas também quem não ficaria? Sai pra comprar cigarros após uma boa trepada e, quando você volta, a puta está morta!

Pereira, o delegado, estava de cara amarrada. Provavelmente a mulher não deu pra ele. Fez os questionamentos, entrevistou o pessoal do hotel e todas as versões se confirmaram. Não havia problemas para mim nem para o pessoal do hotel. Os legistas confirmaram a hora da morte e tudo mais. Pereira só não sabia, ainda, como a garota fora assassinada.

Sim. Não foi suicídio: foi assassinato. A facadas. Não havia sinais de arrombamento nem de coisa parecida. A chave estava do lado de fora do quarto, na porta. O que intriga tudo é que eu, quando fui comprar cigarros, entreguei a chave para o porteiro. E ele me era bem suspeito mesmo. Pereira, adivinhei, pensava o mesmo.

Contei a história toda, da perseguição "política" dentro da empresa e minha missão ali em BH. Ele acreditou, fazendo pouco caso. "Se quer dar pro bigodão, vai logo!". Viado esses policiais... Do nada ele resolveu chamar o meu chefe para poder prestar depoimento também.

Eu gelei e ele notou. Seria a primeira vez que o veria em dias, desde aquela humilhação toda.

- Moreira, liga aê pro CIP e fala pra achar um tal de... de.. como é o nome dele, Mostardini?
- É Covallini, porra!
- Que seja...

Moreira, o assistente, ligou e informou os dados.

- Agora é só aguardar, chefe.
- Ótimo. Ceralini...
- Covallini!!
- Que seja... Quero saber mais sobre Aparecida. Como era, seus inimigos, além do chefe e coisas assim.
- Ah, certo... bem...
- PEREIRA!! PEREIRA!!

Um soldado raso entrou correndo. E com um puta sorriso no rosto... que coisa indecente!

- Que foi, porra!!! Tou ocupado aqui, caralho!
- Outro assassinato! Na mesma noite!!! Vamos lá??? Vamos???
- Puta que pariu... agente novo é foda! Quer ver assassinato, vai pro Rio! Me dá essa porra aê - e estendeu a mão para o 'aspira'.
- É outro assassinato - virou o aspira para mim e disse, todo contente e levantando as sombrancelhas. Imaginei ele ter dado uma levantadinha na ponta dos pés.
- É o seguinte, Coisallini.
- Putaquepariu, é Covallini!!!!
- Que seja... Eu vou ter que ir verificar esta merda aqui e você me espera.
- Nem fudendo. Vou pra casa! Volto pra minha cidade mas não fico aqui.

O assistente que aguardava a ligação se levanta:

- Pereira...
- Que foi, Moreira?
- Consegui o endereço onde está hospedado o chefe do argentino aí.
- Mas que...! Eu não sou argentino!!
- Quieto aê! Me dá essa porra aê.

O delegado leu o endereço e franziu o cenho. Leu de novo e checou com a outra folha, que o aspira trouxera.

- Caralho! É o mesmo endereço. Colíriolini, acho que teu chefe tá morto. Vamos lá.
- Êba, Êba! - o aspira começou a dar pulinhos e bater palmas com as mãos bem juntas. Os outros três na sala olhamos para ele com cara de repúdio. E ele dizia: "vou andar no camburão, no camburão, no camburão! Vou andar no camburão, camburão aão ão!"

Ia ser uma longa viagem.

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