terça-feira, 6 de novembro de 2007

BIGODÃO



Não é de hoje que vejo 'neguim' tentando puxar meu tapete aqui na empresa. É um saco. Mas com jogo de corpo tudo se resolve. Já mandaram recados em meu nome, relatórios roubados, dados adulterados. Tudo tem jeito de resolver. Menos o que aconteceu hoje.

Com uns trocados no bolso, fizemos uma 'vaquinha' para comprar um lanche de café da manhã. Como bom mineiro que somos, o preferencial é pão-de-queijo (sem soda e sem mussarela, ok?) e coca-cola, trincando de gelada. Mas há dias que compramos outras coisas. Parece estranho, mas não é raro as vezes aqui no trabalho em que paramos para um lanche no café da manhã ou num café da tarde. Às vezes até os chefes pagam pro turno todo! É ritmo de festa, mesmo. E nem sempre é quando as coisas estão boas. Na verdade eu acho que depende da fome deles. Continuando...

O escolhido para hoje fui eu. Sempre vai o boy, porra, mas hoje, como está chovendo, estou de carro e o boy regulou, liberou minha parte na vaquinha, então eu fui. Comprei o pão-de-queijo, mesmo. É bom e barato. Lógico que há melhores na cidade, mas como todos estão acostumados àquela merda borrachuda e caroquenta, comprei lá mesmo. Quando voltei senti um certo clima pesado na galera. Uns me olhavam estranho, outros com um ar de superioridade. Deu tempo de dizer "olha a bóia chegando" e de ouvir "COVALLINI, NA MINHA SALA AGORA!". Era a voz do chefe. Eu estou acostumado a ouvir estes gritos o tempo todo. Eu e todos! Mas senti que a coisa não era boa.

Entrei de mansinho na sala dele, com ar de cachorro pidão. Se chegar como mala é pior. "Tranca a porta", ele disse. Tranquei. Certas reuniões são feitas com as portas trancadas, por isso não me importei muito. Ele começou ríspido:

- Seu rendimento está muito bom e a matriz quer que você seja promovido.

Contive o sorriso. Eu via que a coisa não era boa.

- Mas eu não quero que você seja promovido. Você está aqui - e apontava com o indicador a palma da mão - Você vai fazer o que EU quiser, está entendendo?

Eu não sabia que diabos de conversa era aquela. Mas tinha que concordar. Estou no emprego há tantos anos, não podia ser demitido assim, do nada!

- Estou sim, sr. - Disse, abanando a cabeça.
- Sr. Covallini, quando eu fui transferido de Belo Horizonte pra cá, há três semanas, eu não sabia de uma coisa. Sabe o que é?
- Não, senhor.
- Eu não sabia que tinha taaantos gatinhos aqui nesta cidade caipira.

Meu sangue gelou. Aquilo só podia ser brincadeira. Eu nem qualificaria como assédio sexual no trabalho. Aquilo é putaria! É CHEFE, é HOMEM, é MACHO, porra! Peraí, macho o caralho, é viado!

- Segundo eu andei ouvindo, Sr. Covallini, o sr. também gosta de um bigodão na nuca, não é?
- Eu, er... bem, ahn... quem te disse isso?
- Não é hora para isso, sr. Covallini - disse ele afrouxando a gravata. - O sr. tem 24h para se decidir se será promovido ou despedido. E pode tirar a tarde de folga hoje.

Aquilo só poderia ser armação. Mas quem? Por quê? Não importa. Não para mim. O filho da puta que fez isso vai ter minha vingança. Ah, se vai!

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