sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

BELO HORIZONTE, SEGUNDA-FEIRA, TARDE

Meu plano era perfeito!! Como pode aquele soldado raso, aquela bicha, conseguir ligar os fatos?

- Covallini, eu não sou bicha - disse o soldado engrossando a voz. - Na verdade sou filho do delegado Pereira. Estou no caso da investigação há alguns dias. A matriz de sua empresa entrou em contato conosco para averiguar a situação e fiz algumas medidas preventivas. Ligando os fatos, é fácil perceber que você fez um acordo que não foi cumprido e tratou de legitimar uma vingança.

"Usou Aparecida como bode expiatório o tempo todo, manipulando suas ações a seu favor. O seu ex-chefe também foi um mero fantoche, não é? Parece que você havia orquestrado tudo antes de vir para cá. O escândalo, as demissões, as pistas falsas. Até no assassinato.... Matar Cidinha, sumir da cena, matar seu chefe e deixar a dedução irracional nisso. Faz muito sentido, sim. Ainda mais aquela mensagem de suicídio do chefe."

"Nunca lhe passou pela cabeça, Covallini, que ele poderia ter deixado registros por escrito de todo o caso? Ele deixou, sim, algumas anotações que foram de fundamental importância. Relatava, por exemplo, o seu comportamento sarcástico e suas atitudes irreverentes. Pode parecer um leigo falando, mas é a pura voz da razão."

"Contatei um psicanalista e descrevi seu perfil. A resposta que me voltou era de alguém obsessivo, impulsivo e altamente egocêntrico. Quando fiquei sabendo que você iria ser promovido, foi só ligar 1+2. Se alguém morresse, seu dedo estaria no meio."

"Dito e feito: os dois morreram de forma semelhante na mesma noite, com um pequeno intervalo de tempo. No intervalo em que você se ausentou de seu quarto. Brilhantemente teve o cuidado de avisar que iria sair e deixar claro aonde ia e o que iria fazer. Disse que ia comprar cigarros. É muito pertinente, sr. Covallini, posto que o sr. NÃO fuma."

"Eu investiguei cada passo seu, sr. Covallini, não pense o contrário. O sr. nunca fumou na vida de empresário. E teve outros detalhes que são pertinentes a cuidar do caso. Na seu quarto com Cidinha não havia isqueiro, cinzeiros ou fósforos. Tampouco havia cinzas no chão ou em outro lugar. Já no quarto do seu chefe, havia cinzas espalhadas ao longo do quarto, em locais, digamos, estratégicos. O mais interessante é que as cinzas são de cigarro e de papel comum, como se alguém tivesse queimado alguns documentos e deixasse cair partes da prova do crime sem querer. Ainda no assunto, reparei que sempre que havia tais cinzas, havia cinzas de cigarro. E não havia cinzas de cigarro fora de outros lugares."

"Seu chefe não fuma, também, sr. Covallini. E um suposto assassino de aluguel não iria ficar zanzando pelo quarto, fumando e queimando papéis, tentando apagar rastros com cigarros. Outra coisa que me chamou a atenção foi sua assinatura. Você assinou a morte do seu chefe. Não me olhem com este rosto, pai, Pereira. Estava estampado na cena do crime. É como se este dementador aqui quisesse que todos soubessem que era ele."

"O chefe supostamente deixou uma mensagem de despedida, de suicídio. Primeiramente é inconcebível a idéia de alguém se matar daquela forma. Segundo, vejam a mensagem:"

Crux Omni Vitae Ab Lapsus Labor Igne Nefasti Ipse

"É composta usando latim, coisa que o chefe dele NÃO sabia. Era confesso que odiava outros idiomas. E a mensagem foi elaborada utilizando-se de esteganografia. Isso é quando se oculta uma mensagem dentro de outra. Reparem nas primeiras letras de cada palavra. Coincidência não é!"

"Substancialmente esta é uma prova. Agora o primeiro assassinato é de Cidinha. Para provar que a matou, basta checarmos as horas em que ambos morreram. Cidinha está numa mesa, ganhando uma autópsia. O laudo chegará em alguns dias. Se conter calmantes, soníferos ou coisa parecida, sr. Covallini, creio que passará anos no xadrez. Mas, na verdade, acho que encontraremos alguma espécie de veneno cumulativo. A perícia, ao examinar a cena do crime, verificou que a vítima não espirrou sangue, ou seja, já estava morta quando foi esfaqueada."

"É possível que, durante todos estes dias, o sr. ministrava pequenas doses de veneno cumulativo, como arsênico, e culminou numa grande dose naquela noite. Para garantir um álibi, o assassinato premeditado pelo seu chefe foi a melhor idéia que lhe passou pela cabeça."

"Covallini, muito bom, admito, seriam detalhes despercebidos, mas graças a Deus eu consegui enxergar. Você vai a júri popular e, com certeza, pegará muitos anos de prisão, seu filhadaputa!"

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