quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

HUMILDADE

Era um dia plácido, bem sereno. Ele se arrumou e levou-a ao melhor restaurante que poderia pagar. Afinal, aquela noite seria especial.

Era cerca de meio-dia, horário de almoço do boy. Jovelison levou sua parceira para um self-service no centro. Lucyleide já contara a ele que estava grávida de seu filho. Tinham que comemorar!

Jovelison se servia de arroz e macarrão enquanto pensava sobre os últimos meses ao lado de sua companheira. Ele acabara de se formar no Ensino Médio e ganhara um emprego melhor, como boy. Acabara de fazer 18 anos e agora iria virar pai. Como sua vida mudou de repente!

Sentou à mesa e chamou a garçonete, pediu uma coca, mais fazendo mímica do que dizendo, pois sua boca estava cheia de frango frito. Lucyleide sentara-se, também. Como era ele quem pagaria, seu prato estava abarrotado de tudo que pudesse pegar. Jovelison arregalou os olhos e até engasgou quando viu a montanha de comida. "É para ele também", disse ela, carinhosa, apontando para a barriga.

Jovelison se lembrou do dia em que a conheceu. Fazia dois meses naquele exato momento. Foi numa festa da igreja evangélica onde frequentava. Virgem, na ocasião, deixou seu corpo se levar pela safadeza de Lucyleide. Ela o seduziu da pior forma possível: levantava a saia, mostrando as canelas, arrebatava o decote e dava sorrisinhos para ele. Jovelison tinha tara por mulher cabeluda e, quando Lucyleide levantou os braços, certa vez, ele se apaixonou. A partir daí a carne foi fraca e ele a tentou até conseguir o sexo.

Terminara seu primeiro prato, se levantou e foi pegar o segundo. Jovelison olhou com cara feia para ela, mas não ligou. Ele ainda não havia nem terminado o seu. O restaurante estava cheíssimo de pessoas de todos os tipos. Ele via casais, mães solteiras, filhos independentes, desquitados e viúvos. Até pensara como seria sua vida depois de ter o tal filho. Ele estava feliz e assustado ao mesmo tempo.

Lucyleide se levantara novamente e ia repetir o prato. "OUTRO?", pensou ele assustado. Não sabia o que fazer. O certo seria propor um casamento a Lucyleide, com, então, 16 anos. Ela voltara com um prato de igual tamanho, ou até maior. "Essa mulher é um monstro! Três vezes?", pensou. Ela comia com afinco, sem nem ligar para ele. Parado, boquiaberto, observando sua futura mulher atacar vorazmente o prato de batata, frango frito e arroz, Jovelison disse que ia repetir sua humilde refeição.

"Ora", pensou, "vou trabalhar só pra ela comer!". E ele tomou a direção oposta e saiu do restaurante. Foi embora e sumiu, nunca mais foi visto. Lucyleide ficou sozinha e com a conta na mão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Abobra Diário.