domingo, 1 de janeiro de 2006

King George II


Provando mais uma vez que tradição é coisa que deve-se ser mantida e respeitada, fui convidado pela décima segunda vez a passar o Reveillon com Gory e seus nove filhos na Chácara Pombal das Flores em Guará, lá na casa do caralho.
Conhecedor da importância de tal convite, aceitei de imediato e não fui porra nenhuma, como sempre fiz nas vezes anteriores. É ruim de eu sair daqui de Santos pra BSB. Também não liguei dizendo que não ia, mas mandei o Lima em meu lugar.

Ato falho, quero agradecer os votos de boas festas dos leitores do abobra, enfatizando o presente que recebi de uma leitora (que prefere o anominato) , uma linda garrafa de Whisky. Para minha surpresa, eu que já vivi por incompletas quatro décadas envolvido com destilados e fermentados, fiquei boquiaberto com a capacidade humana de produzir uma das coisas mais vagabundas que já vi enfiada numa garrafa.
E cumpri a obrigação ao receber um presente, não abrindo a garrafa (podia estar envenenada) e sai a procura de Ceara, o maloqueiro mais cachaceiro daqui da rua. Encontrei o dito cujo dormindo na porta do açougue, devidamente mijado e com rastros de vomito no seu perímetro de aproximadamente cinco metros:
- Ceara!, Ô Ceara, acorda que tenho um bagulho aqui pra ti!
- Hunf...que é porra??
- Um litro de whisky! - Falei estampando a garrafa nas mãos.
Ceara levanta-se com dificuldade e observa a caixa com olhos úmidos:
- Pra mim? Isso é pra mim?
- Sim Ceara, feliz ano novo!
Agora a emoção toma conta de nossos corações, demonstrando que a humanidade pode mudar a vida das pessoas, nos tornado seres despidos de qualquer orgulho, sendo apenas, gente. Ceara limpa as lagrimas com as costas das mãos e tenta dizer algo, mas eu lhe ponho a mão sobre o ombro e poupo do agradecimento:
- Não precisa agradecer, Ceara. É de bom grado, bebe a vontade!
- Olha Velho, eu nem sei como falar isso...eu sou um bêbado, um lixo...mas tenho vergonha na cara: eu NUNCA, ta me entendendo, NUNCA daria uma merda de um whisky desse pra ninguém. Enfia essa merda no cu e me deixa em paz, seu filho duma puta.
Ceara joga violentamente a garrafa no chão , mas a maldita não quebra. Eu me retiro sem dizer uma palavra, garrafa embaixo do braço. Na virada do ano, fui ver a queima de fogos na praia, ofereci o whisky pra varias pessoas, que ao depararem no rotulo, me olhavam com asco e nojo. Uma multidão me cercou e tentaram me linchar, mas a policia interviu a tempo. Protegido na viatura, ofereci o whisky ao soldado que foi categórico:
- Tu quer passar o ano novo em cana?
A garrafa permanece fechada em minha estante, me desafiando, caçoando de mim.
Alguém se habilita?

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