sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Sim, só ela é certa ...

Saindo do trabalho e voltando pra casa ontem à noite, passei por um desconhecido, que me chamou atenção por estar numa CB 450 modelo antigo inteirona. Como passei pelo mesmo caminho em sentido contrário no máximo 10 minutos depois tive o desprazer de topar com o mesmo cara e com uma velha conhecida de todos nós: a verdade absoluta chamada morte.
Não sei como aconteceu, mas o cara estava morto no chão, com o peito no asfalto e uma galera em volta. O carro que o matou, ou melhor o carro cujo motorista o matou, estava atravessado na calçada da contra-mão. A moto destruída, espalhava-se pela via.
Alheias a toda a cena montada, percebia-se duas coisas extremamente ligadas; uma mulher que acariciava o corpo sem vida do rapaz e o silêncio estrondoso da morte.
Estranhamente e pela primeira vez fiquei realmente abalado com a morte. Percebi que ela não é o fim para quem se vai e sim para quem fica. O cara não vai voltar mais, não vai lembrar de ontem, nem perceberá a falta que fará a sua mãe, namorada, filhos, amigos e parentes, ou seja lá quem for. É o único medo que se tem realmente.
Comecei a pensar se valia à pena levar a vida num ritmo controlado se a certeza do dia de amanha ou do próximo instante realmente não existe. Contraditoriamente, quase parei o carro para ter mais um segundo em segurança, mais algum momento que me prendesse a vida, já que a morte é certa, pois.
Vivemos por causa e pelos outros. Por mais que nos conheçamos o suficiente, sempre fazemos as coisas baseados no julgo externo. Se colocamos esta ou aquela roupa, se falamos de maneiras diferentes com pessoas distintas estamos sempre relacionados com o mundo externo a nossa vontade. Até este post é direcionado a aqueles que o lerão. Faço pensando nos que me mandarão tomar no cu e nos que acharão legal alguma coisa que eu disse.
O que eu não vou abandonar de maneira alguma é a busca por fazer o certo, especialmente com as pessoas que amo e que gosto. Quando eu for, levado pelo único e verdadeiro medo que temos, espero que eu tenha conseguido que estas pessoas tenham feito por mim tudo que elas queriam fazer. E que eu tenha conseguido fazer o mesmo em relação a elas.
Amanhã, ainda vivo, se Deus quiser, eu vou lembrar do dia de hoje e de todos os sentimentos que os acontecimentos fizeram brotar. Quem morre, não tem o prazer da lembrança que nos mantêm firmes e querendo viver sempre mais.
Não vou mudar radicalmente minha vida por causa de ontem, pois não tenho remorso por nada que tenha feito ou deixado de fazer. Os poucos amigos que tenho, são amigos pelo que sou e não pelo que gostariam que eu fosse. Obrigado a todos por, realmente, me fazer sentir vivo.
A morte deve ser um grande blog sem comments. E no mais, não venha chorar no meu buraco, que eu volto pra puxar seu pé!

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