quarta-feira, 23 de março de 2005

Capitulo Quatro. A Lenda Urbana.

Sem noticias sobre a causa do black out, o povo saiu à rua. Como se procurando por algo que não havia, naquele fim de tarde, uma multidão desce preocupada, as escadarias de seus prédios. Os que ficaram presos em elevadores, suplicavam ajuda temendo o cair da noite. As primeiras vitimas fatais, foram os desconhecidos rostos que despencavam em fossos desses mesmos elevadores, no desespero de sair do inevitável meio de transporte de edifícios. Sem sinais de transito, as graves e fatais colisões entre veículos, foram surgindo a cada esquina. Hospitais recusavam-se a receber feridos, pois os precários geradores não atendiam todos os leitos. Em poucas horas a água encanada começou a secar nas torneiras e a noite se instalou com sua escuridão. Uma corrida aos supermercados criou pânico e confusão em busca de mantimentos , e principalmente, lanternas e pilhas. Saques a pequenos comércios começaram a ser registrados pela população temerosa. Caixas eletrônicos eram destruídos por clientes sem dinheiro, que revoltados, não podiam sacar valores. O comercio enfim fechou as portas e os postos de gasolina, sem energia para as bombas, não conseguiam servir combustível aos consumidores. As emissoras de radio ( de automóveis e a pilhas) , eram as únicas fontes de informações. Os telefones fixos e celulares ficaram mudos e varias famílias entraram em desespero por não saber de seus entes.
As 20:47 hs, a Radio Gazeta de Alagoas, via ondas curtas, foi a única emissora que teve coragem de se posicionar sobre o assunto e lançou mão de um editorial acusando o governo federal de não tomar providencias sobre a situação. E numa nota cheia de eufemismos, colocou-se a disposição da população. Ainda foi mais longe e afirmou que o Governo de Alagoas tomaria decisões para estabelecimento da energia sem a consultar a esfera federal, e não acatando as orientações da Federação. A nota fora transmitida sem conhecimento do Governador de Alagoas que, furioso, naquele momento recebe Collor , ainda no saguão de entrada da Assembléia Legislativa de Maceió. O homem estende os braços ao ver Fernando subir as escadas da casa:
- Mas que merda você mandou falar na radio??! Você enlouqueceu??
Collor tem os olhos calmos e sorri vitorioso. Passa a mão no ombro do Governador e diz :
- Calma, homem. Logo estaremos com luz farta. Esta tudo sob controle. Nosso controle.

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