Logo você vai ter teu coração batendo rápido, a boca seca, vai pedir o final. Vai suar numa guerra e sentir o cheiro de pólvora e fumaça. Vai sentir o gosto de sangue. Vai ter a lama suja no rosto e não vai se incomodar. Querer, enfim, morrer.
Eu sou um soldado raso. Minhas roupas eram largas e pesadas. Meu corpo doía de frio e meus pés estavam necrosados. Minhas mãos estão sujas, mas eu não ligo pra isso. Estou com assaduras nas axilas e virilhas. Não tomo um banho decente há uma semana. Tenho o cabelo curto e minha nuca arde. Estou numa trincheira e eu não me incomodo com o morto a meu lado. Não dá tempo pra se assustar. Você precisa viver. Caem 2 bombas. O chão estremece e você sente o ruído grave dentro de seu peito. Medo. Os estilhaços cortam , perfuram , mutilam a carne. Ou caem a poucos metros te ameaçando. Não foi dessa vez. Pode ser na próxima. Estou torpe e quase não ouço ninguém. Canto uma musica em pensamento. Alguém grita pra mim. Deve ser uma autoridade que me ordena seguir, mas eu não consigo lembrar quem é . Eu me arrasto pela lama e acho isso perfeitamente normal. O sujeito na minha frente esbarra sua bota suja no meu uniforme. Eu tenho que correr na frente e deitar numa depressão na terra. Eu sigo correndo , segurando os equipamentos. Acho que ate consigo ver alguns projeteis passando por mim. Estou alerta . Deito no chão e faço o sinal de avanço. Vou viver, vou sair daqui e poder ver meus filhos de novo. Vou no parque perto de minha casa e sorrir. Vou abrir uma cerveja e beber. Quatro soldados chegam perto de mim. Um deles rasga minha camisa e coloca uma bola enorme de algodão no meu peito. Eu não entendo porque. Sangue na boca. Como tem sangue na minha boca? Agora sinto o sangue sair do meu corpo. Foi um tiro? Mas eu não morro, eu sou eu mesmo e não morro nunca. Esse buraco que o tiro fez, será só um machucado, uma cicatriz, uma marca e ficarei bem. Não é hora de morrer e eu sei disso. Os outros ao meu redor podem morrer, mas eu não. Eu canto numa musica. Não consigo pensar. Acho que dormi.
- Onde estou?? - Não quero abrir os olhos. Ouço uma voz familiar. É a voz de minha mulher:
- Desliga essa merda desse Playstation e vai dormir na cama!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Abobra Diário.