terça-feira, 1 de novembro de 2005

D.C. 21 - A tempestade.

Eu e Jesus éramos mesmo muito vagabundos. Ficávamos horas sem fazer nada pela Galileia. Às vezes, Jesus ia a agencia de desempregados pra aliviar a barra dele com seu pai. Jose era bravo feito um cão e volta e meia eu o via apertando o filho:
- Jesus, seu vadio, já arrumou trabalho?
E com as negativas de Jesus, saia esbravejando pela marcenaria, levantando serragem por todo salão.
- Vagabundos! Você e esse que chamam Velho, são dois VAGABUNDOS!!

Naquela tarde, assistíamos os gladiadores lutarem numa arena perto do Monte Sinai. Eu estava aflito com a chuva que castigava a cidade há dias:
- Caralho Jê, essa chuva não passa! Já to com o saco todo embolorado de tanta umidade...
- É vontade de meu pai. Que assim seja. - responde Jesus enquanto a chuva lhe pinga do longo nariz.
- Vontade de teu pai??!? Num sabia disso não. É difícil imaginar Jose pensando nessas coisas...
- Jose não. Meu outro pai, o celestial, Deus.
Eu fico mais impressionado ainda:
- Quem diria! Deus deseja que meu saco fique embolorado! Que vontade estranha , hein Jê!
- Que saco Velho? - Jesus pergunta confuso.
- O meu, porra! Eu não falei que meu saco tava mofando e você disse que era vontade do teu pai?
- E porque raios Jose quer que teu saco fique mofado?
- Jose também quer?!? Ô loco!! Mas sei lá eu, os pais são teus, você é que tem que saber...mas e essa chuva toda, Jê? Num passa, né?
- É. Chove, chove, chove...

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