ABOBRA – Fosse bom, não era vermelho.

D.C.
O verão de Jerusalém me obrigava a tomar frios banhos noturnos. E uma gripe foi inevitável. Eu estava com olhos marejados, o narigão vermelho e a boca semi aberta. Deitado na grama da praça, tentava me restabelecer da doença corriqueira. Jesus estava sentado de pernas esticadas e balançava umas folhagens , brincando com os dedos do próprio pé.
- To mal Jê...gripe do caralho, dói o corpo todo. O pior é não sentir cheiro de nada...
- O nariz está entupido , Velho? - Fala Jesus sem me olhar e continuando com sua distração.
- Entupido demais...
O filho de Deus ajoelha-se e coloca as mãos sobre minha cabeça, sem me tocar:
- Vou cura-lo. Um momento - Ele fecha os olhos e após alguns segundos diz - Melhorou?
- Acho que sim (Inspira, inspira). O rânho pelo menos sumiu. Mas cheiro ainda não sinto... - Jesus torna a fechar os olhos e os espreme com força. Começo a notar um aroma desagradável e pergunto resignado a Jesus:
- Hunf! Agora to sentindo algo...um fedor...que chêro é esse??!! Hunf! Tu peidou, Jê?!?
- Sim. Liberei um flato.
- Porra meu, tá louco??!? - Levanto-me rapidamente e abano o rosto - Cara porco! Mas, perai! Você me curou com uma bufa divina??? Um peido milagroso??!?
- Claro que não! Curei com a imposição das mãos, pedindo ajuda espiritual a meu Pai.
- E tu faz uma coisa assim numa hora dessas? Porque esse peido justamente agora?? Aff...que caatinga!
- Pra testar seu nariz. E pelo jeito, você realmente curado.
Olho cinicamente pra Jesus e comento afastando me da área de risco contaminada:
- É. Ainda bem que eu não falei que não tava sentindo gosto...