segunda-feira, 19 de março de 2007

Arquivo Confidencial.




O primeiro contato foi via msn. Logo de cara o Velho mandou a proposta de emprego. Meu salário seria pouca coisa superior ao que recebia na época, nada muito atraente, mas confesso que as promessas de fama, sucesso e ninfas virgens foram decisivas. Além de tudo, passagens Curitiba / Brasília / Santos grátis. Como nunca andei de avião, estava ansioso por começar logo.

A impressão que eu tinha da empresa se desfez ainda antes de conhecer seus altos dirigentes. Gory, por msn me disse que tinha urgência em começar o novo empreendimento, que me daria detalhes pessoalmente e que a passagem estava comprada. Era só retirar no guichê da Viação Cometa. “Viação Cometa? Esse puto vai me mandar de ônibus para Brasília? Um sinal de alerta amarelo acendeu na minha cabeça, mas achei melhor não discutir assim, logo de cara. E embarquei numa viajem sacolejante de não sei quantas hora.

Durante a viajem fiquei imaginando como seria o prédio da sede do Abobra Corporation. Imaginava alguma coisa como as imponentes construções californianas do Vale do Silício, algo um pouco menor que o Google, mas com salas de fliperama, bares, boates e boites. Nesse feliz pensamento adormeci, esquecido que estava em um ônibus convencional.

Fui acordado pelo motorista avisando da chegada. Gory disse que mandaria alguém me apanhar na Rodoviária. Uma boa recepção seria se ele mandasse Lindalva, penso comigo. Espero minhas malas pacientemente enquanto tento ajeitar os cabelos e alinhar o terno todo amarrotado da viagem.

Notei que do outro lado da plataforma havia um sujeito me encarando. Acende um cigarro e caminha em minha direção.

- Vamos? Indaga-me o jovem ancião.

- Eita viadarada. Sai pra lá chucrute!

- Qual é, Worm?!

- Gory?

- Velho, animal. Vamos que o Gory tem pressa. E daqui até lá é uma pernada da porra.

- Vamos a pé? Cadê seu carro?

- Não carrego Paraíba no meu carro.

- Porra velho. Curitiba não é capital da Paraíba!

- Dá na mesma. Tudo nordestino.

- ... Porra, e um táxi?

- Caro pra caralho.

- Metrô?

- Você paga?

- Quantos quilômetros até a sede?

- 10.

- Pago.

Na viagem, preferi ficar calado. O velho pareceu-me a arrogância em pessoa e prefiro não conversar com esses ignorantes que se acham superiores a tudo. Ainda bem que ele não seria o meu chefe, ou teria voltado da rodoviária mesmo.

Chegamos no prédio e o sinal de alerta redobrou de intensidade. Um prédio decadente, sujo e mal cheiroso. Dezenas de apartamentos por andar e o maldito Gory era morador justamente do ultimo andar. Isso não seria problema em um prédio com elevador, mas ali isso era um luxo não permitido. Quinze andares pelas escadas. O Velho mostra-se habituado com o exercício. Fuma dois cigarros durante a subida e nenhum sinal de cansaço se percebe, ao passo que eu sinto que vou enfartar tentando acompanhar o seu ritmo.

Duzentos e quarenta degraus depois me encontro à porta do apartamento 1590. Percebo alguma combinação nas batidas da porta. Três fortes, uma leve, uma forte e três leves. Um menino abre a porta. Encara-me feio, mas abre passagem.

- Vou avisar papai que vocês chegaram. Fecha a porta atrás de nós e some.

Sento num sofá empesteado com o cheiro que sobe daquelas pizzas de bananas mofadas em diversas caixas espalhadas na sala. O garoto retorna.

- Papai está muito ocupado no momento. Não poderá atender de imediato e pede que o aguardem.

- Ok.

Duas horas depois ouço uma voz débil e gutural vinda sabe-se lá de onde.

- Velho, ta aí ainda, seu puto?

- Não! Já estou em casa.

- Então vem cá me dar uma força, que não consigo passar desta fase e estes alemães filhos das putas estão apelando.

- Porra Gory, trouxe o Worm até aqui, então fala logo com o cara e me libera. Depois te mando os saves do Medal of Honor.

- Então manda-o entrar.

Finalmente conheceria o chefe.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Abobra Diário.