Acordava cedo e varria todo o terreiro como num ritual. Passava a vassoura de piaçava, muito maior que ele, nos tantos metros quadrados de areião derredor da casa num único sentido e depois ia com a vareta desenhando no entorno. Chorava quando ventava forte e esmurrava os céus com berros hediondos quando chovia. De vez em quando, uma galinha desavisada que ia ciscar por ali aparecia morta – Meu Pai – Chorava a mãe diante da geometria das tripas do bicho contornando o desenho.
O pai as vezes até via graça nos desenhos. Só nos desenhos, pois a mãe ocultava as cores e contornos da brincadeira - Uma nega, vê-se pelos quadris e pelo nariz. Donde este peste anda vendo essas sem-vergonhonices? – E já não achava mais graça. – Ta precisado de trabalhar. E vai! – Determinou o velho.
Afiou um bom facão, limou uma enxada e pediu que a mulher preparasse duas marmitas para o dia Seguinte. Ela fez.
Acordaram com o flá-flá-flá da piaçava no areião. O pai separou duas cargas e entre apreensivo e satisfeito saiu porta à fora. Colocou uma das trouxas nas costas do rapagote e à cabresto puxou-o plantação à dentro. – Tu é um homem meu filho. Venha!Aprendia rápido o menino. O pai se ria das caretas que ele dava no embico da cachaça. Riu-se pouco, pois logo aprendeu, bem como o manuseio da foice e do facão. Fez trabalho bonito aquela tarde e não mais voltaria, nem pela noite, senão pelos gritos da mãe diante de desenho tão horrendo, feito em sangue, membros e tripas humanas na clareira.
- É Dulcinéia, mamãe!
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