terça-feira, 13 de maio de 2008

Já esta quase na hora, falta apenas trinta minutos para as doze baladas. A lua vai alto.

Vejo-me agora já meio grogue diante da escrivaninha, a balançar compulsivamente a cadeira presidencial (adoro esse luxo, afinal, sou presidente da minha casa). Minha bagunça organizadamente espalhada pelo quarto todo. Este é o meu canto preferido da casa, até mais que o bar, mas o álcoolismo sempre me põe aqui depois de passar pelo bar. O canto preferido é sempre o segundo a ser visitado.

Enquanto escolho um disco para tocar, percebo o quanto estou velho. Todo mundo na era MP3 e eu não consigo abandonar meus queridos Long Play’s. Ajeito os que ficaram desorganizados na véspera e escolho “Em ritmo de aventura” do Roberto Carlos para rolar enquanto limpo “Ópera do Malandro”. O que esta piazada anda ouvindo hoje em dia? Com melancolia, confesso. - É, estou velho. – Neste local, peça exclusivamente minha, tudo é velho, tudo fora de moda, tudo a minha cara. Meus discos, meus livros, meu violino que nunca aprendi a tocar, minhas fotos e os antigos e pesados móveis, o cheiro de cigarro e bolor dos livros velhos dão a aura do ambiente.

O ambiente é pesado, mas aqui me alegro. É onde fujo das confrontações diárias, onde relaxo e leio, escrevo, bebo, fumo e escuto música. É difícil ser um velho num mundo tão moderninho. Porque minha mulher tem que querer trocar de carro? A velha caravan 78 me atende tão bem, minhas botas antiquadas me são muito confortáveis. Minha filha quer um IPOD, diz que o mp3 player dela é ultrapassado, o computador é ultrapassado, a tv é ultrapassada, tudo ultrapassado! Visto que minha data de fabricação é muito mais antiga que estes itens que a mocinha acha velharia, temo que logo queira me substituir por um papai digital estilo Tamagochi de alguns gigahertz

Freddo dorme lá fora, seu ronco, escuto aqui de dentro. Hoje ele faz aniversário também. Penso em ir cumprimenta-lo. Ele anda muito ranzinza. Lembro que vovó sempre diz que a velhice ou juventude é um estado de espírito, mas os 12 anos pesam muito sobre ele. Dizem que cada ano do humano equivale a seis do cachorro, então ele está fazendo 72 anos. Melhor deixa-lo descansar.

Meu velho relógio alerta: A meia noite chegou, mais um ano passou. Agora tenho 26 anos e 28 dentes. Quantos dentes terá Freddo? Quantos terei eu aos 72?

Melhor dormir.

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