quarta-feira, 7 de maio de 2008

Já não escuto Ariel falar, pensamentos mais importantes colocam em segundo plano o garçom. Velho amigo que é, sei que devia prestar-lhe atenção, se não fosse por estar me negando a ultima dose. O copo vazio me irrita e não consigo ouvi-lo diante das formas que tomam os sons da jukebox. Coloco uma nota grande na mesa e rudemente peço uma garrafa inteira do melhor whisky – Para viagem, Ariel! – Sei que amanhã me perdoará e será o bom garçom de sempre.

Enquanto aguardo o troco rompo o lacre e abro a tampa. Imagino que devo estar com olhar vidrado e insano a olhar a boca desnuda e convidativa da garrafa. Dou risada do que podem estar pensando e com pena de mim mesmo dou um longo gole – Foda-se – respondo ao conselho que não pedi, mas veio junto com o troco.


O carro, amaldiçoado que é, não pega. Conspiração! Maldita cidade de bandidos! Onde está a trava anti-assalto? Humilhação um homem ter que provar à seu próprio carro que não é um bandido! Convenço-o por fim e, em paz partimos num passeio desembestado em vias iluminadas e bonitas. Reparo nas ruas e me culpo por julgar tão bonita cidade uma terra de bandidos.


A iluminação da Visconde de Guarapuava, Sete de Setembro, Mariano Torres e XV de Novembro, com suas casas bem preservadas, prédios modernos e boates vivendo pacificamente com seus mendigos e prostitutas. Bem sinalizadas e largas avenidas no coração da cidade querida. Uma maravilha!


Pego a Av. Victor Ferreira do Amaral, derradeira avenida antes da parada final e sou assaltado pelo deslumbramento da madrugada, livre das buzinas, dos tiozinhos barbeiros, ônibus à diesel, carrinhos de catadores de papel e vans escolares. Lindo! - Um gole para comemorar à vida de minha cidade pulsante.


A cidade passa cada vez mais rápido, a velocidade. Um farol alto e logo depois as luzes escurecem. Os gritos da noite soam mais alto. Cada vez mais escuro. Os berros de socorro. Alguém se importa comigo! Ao longe ouço as sirenes. Cada vez mais perto, cada vez mais distante. Imagino o que Ariel me falava. Bom amigo que foi, devia tê-lo ouvido. Mais uma vez sinto pena de mim mesmo.


A cidade pulsa.

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