sábado, 23 de agosto de 2008

Sábado do tempinho sobrando.

Mas daí que me deu uma impressão de algo errado no monumento. Tinha algo estranho nos pés do Coronel, ele estava de sapatilhas de balé, com ponta quadrada e tudo.
- Sapatinha de balé só se for na sua cabeça, aquilo são sapatos de natação! - Disse ríspido o guarda municipal que estava por perto, ao ouvir minha constatação.
- Que eu saiba, sapato de natação é pé de pato.
Falei olhando bem de perto a escultura. Quando me aproximei das costas da estatua, enchi as duas mãos nas nádegas de bronze:
- E isso aqui é bunda de mulher, homem não tem um rabo desse todo redondinho...
O guarda, com as narinas abertas em ultraje, colocou a mão no cabo do cassetete e soltou a frase travada por falta de motivos desde o primeiro dia de trabalho:
- TEJE PRESO!
- Preso?! - Olhei surpreso pela atitude do homem enfurecido.
- ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR! PASSOU A MÃO NA...- e disse miúdo - bunda do Coronel!
Os Fulanos e Antonios já rodeavam o local por conta dos berros do guarda. Um par de viúvas baixou o rosto, o bêbado ria-se pela cachaça alheio ao assunto, o vigário veio feito um super-herói balançando sua batina e capa ao ser informado por um boateiro que tinham matado alguém no meio da praça. Fez-se o clamor e fui encaminhado à delegacia.
Já sentado na mesa, de frente ao delegado, tentei explicar a situação surreal:
- Eu me referia a escultura, não destratei ninguém...
O tal guarda era algoz na defesa de seu testemunho:
- Chamou de VI-A-DO e encoxou o Coronel Antunes, esse pervertido, vi pessoalmente e como tenho fé publica, de acordo com o artigo...
O delegado, um rapaz recém formado de cabelo penteado de lado e a pouco na função do cargo, me olhou com desprezo quando interrompeu o falatório do guarda:
- Quer dizer que meu padrinho era homossexual?

Logo ali atrás do delegado, numa moldura antiquada, um retalho de jornal com uma foto, Coronel Antunes indicado por uma seta feita à caneta, junto a outros nadadores em torno de uma piscina provavelmente em Moscou. Pouco abaixo uma carta já meio amarelada e escrita a punho pelo próprio Coronel Antunes.
Dizia-se que na carta, o nadador narrava as maravilhas da União Soviética, o frio e a saudade do afilhado, desculpando-se da partida inesperada e sem despedida a altura.
Eu não li, se era isso mesmo que estava escrito, traduziram assim na capital, estava em russo, me contaram desse jeito, eu não conferi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Abobra Diário.