sábado, 27 de março de 2010

Texto

No palácio do governo, o mais atroz dos soldados de Nero pleiteia a Pilatos o premio por captura de um judeu procurado. Abaixado com um joelho no chão e outro dobrado, ele exibe as mãos manchadas de sangue seco diante de um Pilatos horrorizado e encolhido em seu trono:

- Matei aquele filho do carpinteiro João, chamado Jesus, meu senhor...

Um dos guardas do palácio, cruza uma lança a frente do governante prevendo algum ataque e recebe um olhar de canto em desaprovo do soldado ajoelhado, que levanta-se, saca sua espada e num só golpe decepa o guarda. A cabeça rola ate os pés de Pilatos que a empurra com a ponta dos pés esticados para longe de si, enquanto esfrega os nós dos dedos da mão fechada em punho nos dentes. O corpo do guarda cai reto e duro como uma arvore e esvaia-se em sangue, enquanto se ouve varias lanças tilintando ao chão e guardas desesperados abandonando os postos em desabalada carreira. Um dos homens da segurança permanece estático e suspira em êxtase enquanto tem devaneios sexuais com o terrível soldado, este que, pigarreia limpando a garganta e volta a ajoelhar-se diante o trono de Pilatos:

- Matei Jesus e atirei suas genitálias no rio.

- Credo!! – desabafa Pilatos que pergunta curioso – mas você então teve que tocar nos...

No chão ao lado, o corpo do guarda decapitado começa a estrebuchar para espanto do soldado que agarra uma lança qualquer e espeta mais de vinte estocadas no defunto:

- Esse maldito ainda esta vivo, como(?) respira se arranquei-lhe...- o soldado tem um estalo e acerta a lança na nuca da cabeça cortada que quica pelo salão. – a cabeça não morreu!

- HURRG! – Gorjeia Pilatos enquanto urina-se nas roupas. O guarda viado desmaia ao fundo e tomba com olhos virados.

Demonstrando certa impaciência, o soldado puxa um embrulho da baia que trás nas costas e finalmente exibe o conteúdo:

- E como eu estava falando, meu senhor, matei Jesus e aqui a língua dele para provar o feito.

Pilatos coça o queixo observando a língua exposta num pedaço de pano e pergunta:

- Você cortou a língua de Jesus? – O soldado pousa a palma da mão no cabo da espada e diz em bom som:

- Sim. E acredito não haver duvidas quanto a isso.

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Conselho de Nicéia, 325 D.C.

Discorre o sumo sacerdote, enquanto afasta alguns papiros da mesa:

- Acho justo, então, que sendo nosso mártir um homem sem língua, um mudo, realizarmos nosso cultos ecumênicos, calados. O silencio será o símbolo cristão.

Outro sacerdote pergunta confuso:

- Isso vai dar certo? Como vamos levar nossa mensagem ao mundo se estamos calados?– O sumo sacerdote responde arrogante:

- Hoje falamos em latim, ninguém entende nada, continuam acreditando nisso tudo e enchem nosso rabo de dinheiro. Porque seria diferente se nos mantivermos em silencio?

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2010.

Amem.

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