Esse texto do Valdir Antonelli do site www.dropmusic.com.br expõe toda a marmelada do festival Claro que é Rock.
Claro que é um fiasco
É incrível ver uma boa idéia indo para o ralo, não é? O Festival Claro Que É Rock foi uma ótima idéia, mas se perdeu de um jeito, por causa do regulamento frouxo, que a credibilidade que tinha está, aos poucos, se acabando.
Pra começar, o rolo com as bandas que já trabalharam com um selo independente e têm material distribuído profissionalmente, a maioria graças à ajuda da Tratore. No começo, as regras diziam que não seriam permitidas bandas assim. Tudo bem, o regulamento foi claro e pronto. O problema, levantado pela própria organização do festival, foi que estavam recebendo pouco material e o que vinha tinha pouca qualidade. O que fizeram? Deram uma entrevista para o Lúcio Ribeiro, da Folha de São Paulo, dizendo que estas bandas poderiam sim mandar material para o festival, desde que assinassem um termo abrindo mão dos direitos e tal.
Isso feito, obviamente, boas bandas passaram a enviar seus discos, releases e fotos, crentes que o regulamento havia mudado. E realmente tudo ia bem até a desclassificação do pessoal do The Dharma Lovers, grupo de Porto Alegre, com a inclusão do Deus e o Diabo. Nada contra o Deus e o Diabo, mas a desclassificação do Dharma Lovers não foi bem explicada. Aí o problema chegou à etapa de Brasília, com a retirada do Violins e do Bois de Gerião e aportou em São Paulo com a saída do Pullovers.
Só com estes últimos é que algo chegou à imprensa, as bandas se pronunciaram, já que a assessoria de imprensa do festival não respondeu a nenhum e-mail nosso (e de outros jornalistas também). O problema foi realmente a distribuição dos discos pela Tratore, já que todas as bandas trabalhavam desta forma. Aí a porca torce o rabo, já que, só para citar duas bandas de São Paulo, o Fuga e o Biônica, também têm seus CD´s distribuídos pela mesma Tratore, então nada justifica a desclassificação das outras bandas. Se alguma tivesse que sair, teriam que ser todas.
Outro problema, esse que pode render até processo contra o festival, foi o fato de vários discos não terem sido retirados dos Correios na data estipulada pela curadoria do festival. Ou seja, o resultado foi divulgado sem que todos os discos realmente tivessem sido ouvidos pelos responsáveis. Talvez por isso os nomes das bandas que irão tocar só estejam aparecendo no site no dia da apresentação.
Mais um? Claro, agora quanto à escolha das bandas finalistas. Se no Norte e Nordeste tudo correu bem, com as bandas classificadas fazendo bons shows e contando com o apoio do público. No Sul e Centro-Oeste, mais precisamente Porto Alegre, Florianópolis e Brasília, as coisas não saíram como todos esperavam.
Em Porto Alegre, talvez o caso mais grave, a banda Os Cartolas tem como um dos integrantes o filho de um roqueiro das antigas da capital gaúcha. Este roqueiro é amigo de todos na comissão julgadora e, algumas pessoas presentes confirmaram, rolou um lobby para que a banda realmente fosse escolhida. Junte-se a isso que a banda teve a pior apresentação entre todas, isso dito por quem esteve lá, deixo claro, mostra que algo de podre realmente pode ter rolado em Porto Alegre.
Subindo pela BR 101, agora é a vez de Florianópolis, onde, novamente, a escolha foi controvertida. O grupo Spiegel, chamado por boa parte do público presente de cópia do Charlie Brown Jr. (entre outras palavras mais pesadas), foi a banda selecionada. Para vocês terem uma idéia do que rolou por lá, boa parte do público ficou de costas durante a apresentação do grupo, que novamente fez uma apresentação bem abaixo da esperada.
Chegamos à Brasília, lá, assim como em Floripa e Porto Alegre, a banda escolhida não era a mais querida pelo público. O 10Zer04, com seu som bem ligado ao hip-hop, levou a melhor com os jurados.
A pergunta que fica é: Não deveria ser o público o melhor termômetro para ver qual banda merecia ganhar a etapa? Não é, no mínimo, anti-ético um grupo de jurados fazer lobby para eleger a banda do filho do amigo? Não é totalmente sem critérios desclassificar uma banda e manter outras que fizeram exatamente a mesma coisa que a expulsa do festival?
Todas as perguntas foram feitas, nenhuma teve resposta e agora aguardamos as etapas de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, para, pelo menos, encerrarmos o festival de forma positiva.
A falta de informações para a imprensa, talvez tenha sido o maior pecado do Claro que é Rock, quem sabe no ano que vem as coisas mudem. Mas uma coisa é certa, boa parte dos artistas independentes estará com um pé atrás quanto a participar ou não do festival. Muitos não irão perder tempo enviando material e a boa idéia estará perdida de vez.
Valdir Antonelli
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