ABOBRA – Fosse bom, não era vermelho.

Só na Pressão!

- Vamô lá, meu, é legal!
Ele insistia quase implorando. "Ele", no caso, é meu sobrinho de 20 anos. Queria porque queria me levar numa festa no Jabaquara. Conhecedor das musicas que ele ouve, achava meio inseguro me aventurar em área tão inóspita:
- Num fode , Gabriel. Vôu nessa porra nada! Olha pra minha cara, moleque!
- Vamô tio! Tu é interado! O pessoal lá ate já viu os bagulhos que tu escreve na net!
- Piorou! Vão pensar que eu sou louco e quando me verem vão me chamar de velho...
- Porra, e tu não é o "Velho"??
- Esquece, Gabriel, não vou!
Considerar um marmanjo de 20 anos uma criança é uma insensatez. Acontece que nessa idade ainda existem resquícios da infância e um desses resquícios é a insistência quase torturante. Acabei indo pra porra da festa.

A primeira impressão é a que fica.

Lá no Jabaquara existe um condomínio fechado que não deu certo. Minha impressão é que aquilo se parecia um condomínio favelado. Uns cindo marmanjos estavam na porta da casa numero 53. Vestidos com enormes calças e camisas descomunais faziam sinais inteligíveis com gestos rebuscados. Eram funkeiros. Observam atentamente meu carro, e já imaginei um inevitável assalto. Gabriel percebe meu incomodo e me acalma.
- Fica frio, são meus trutas.
- ...
Um dos integrantes reconhece Gabriel descendo do carro e vem todo empenado cumprimenta-lo.
- Daí irmão! Quem é esse tiozinho aí? O playboy chega aqui numa GTI?? Esse carro tá limpo??
Tenho uma Parati GTI. Não porque corre, nem porque é uma GTI. Comprei porque na época estava com um preço legal. Mas o logotipo GTI causa estranhas reações. Primeiro porque não sou playboy e segundo porque não saiu tirando racha por aí. Tentei então, ser sociável com aquela criatura torta que me perguntava pelas condições de higiene do meu automóvel. Abri a porta do carro e falei:
- Quer ver? Passei o aspirador ontem. E lavei tambem.
Gabriel arregala os olhos pelo provável embaraço e sai na defesa:
- Porra, o cara não é playboy! É meu tio que te falei. - Ele se dirige a mim - E meu, ele não tá perguntando se o carro ta sujo de sujeira, ta falando se não é cabrito por causa dos gambés! Ah, esquece, tio...
- Ok!
Os rapazes tornam-se mais amenos e parecem aliviados:
- Beleza! Vou avisar a galera pra não ?fazer? o carro. Entra aí, tiozinho, a festa tá manêra! O grupo entra na casa , todos pareciam ter um problema na coluna de tão inclinados lateralmente . Estranhamente, Gabriel também entortou-se e já participava dos rituais de gestos, apertando as mãos , dedos, cotovelos, pulsos e toda variedade de membros e sub membros superiores. Depois percebi que aqueles movimentos sincronizados faziam parte de uma espécie de um cumprimento tribal.

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