
E fui visitá-lo na cadeia. O carcereiro me levou ate o fim do corredor, onde estava a sua alcova. E lá estava ele. Sentados de pernas cruzadas, com uma certa elegância, balançava o pé como num tique. Ao me ver, não fez nenhum sinal emocional. Simplesmente me olhou. Sentei-me numa cadeira de plástico branco que providencialmente estava no corredor e o observei pelas grades. Depois de um breve silencio, ele me pergunta:
- Então? Que faço aqui?
- Você está preso. - O Velho ri pela obviedade:
- Isso eu já percebi. Queria saber é o porque.
- Porque eu quis assim.
- Porra, tá louco??!? Me escala em outra parada, cadeia é foda!
- A morte? Seria um opção...
- Prefiro! Já morri um monte de vezes, sei que volto. Agora , ficar aqui sem nada pra fazer é cruel. Porra, dá um jeito aí!
- Sinto muito, Velho. Vai ter que ser assim, você já me trouxe problemas demais.
- E que culpa tenho com teus problemas? Sai dessa, porra cara, se vira, mas não me deixa aqui não!
- Você esta em condições de me exigir algo? Já se deu conta da tua situação?
- Você que não entende. Não pode me deter. Por mais que tente, não pode. Eu sou maior que tudo, não tente nenhuma bobagem.
- O "Velho" é só um personagem. Esqueça, você não é nada.
- ... alias, quer um cigarro?
Eu vi o Velho. Ele se levantou e de pé, também me viu. Estava lá o Velho, com suas curtas calças sociais quadriculadas , seu terno marrom com cotoveleiras de couro preto, o sapato 757. Ele acendeu um cigarro e deu uma tragada com gosto. Cuspiu pequeno, uma unha de tabaco e sorriu. Passou a mão nos cabelos e acenou um adeus:
- Até mais, homem que escreve. - O Velho afasta-se, cumprimenta o carcereiro no corredor e segue pra liberdade.
E sentado no banco de concreto, olhei pelo gradil, a cadeira de plástico branco. Vazia e do lado de fora da cela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Abobra Diário.