Ele deu um passo. Era o Velho. Ele deu mais um passo. Era só um prato que ele estava enxugando.
- Por quê todo mundo me chama de mané, otário, filho da puta?
- Por quê sim, babaca - e pá!, outro tapa.
- Chega! - gritou o velho, jogando o prato por cima dos ombros pra dentro da cozinha. - Seguinte, Cova, larga essa porra de filme pra lá. Tu vai ficar aqui, trabalhando, fingindo que é a gente e nóis rapa o pé daqui. Se a bomba estourar cai no seu braço, belê?
Eu, naquele terrível momento, pensando entre a miséria do salário mais o risco de ir para a cadeia ou ter que voltar para a casa da minha ex-mulher, resolvi fazer o que todo mundo faz: exigir aumento no preço.
- Tá bom, mas as playboy ficam.
- Mah nem fudendo - e 'pá', outro tapa.
- Porra, que merda! Então eu não fico mais aqui!
Velho juntara os dedos uns nos outros, pelas pontas, e ficava tinlintando. Levantou a cabeça com um olhar com quem dizia "ou aceita ou morre". E disse:
- Tem uns restos de pizza de anteontem em uma das caixas no balcão da cozinha. Se aceitar o emprego, é seu.
- Tem sachê de maionese e catchup?
Velho para por um momento, olha pra cima e põe a mão no queixo.
- Hmmmm... tem sim.
- Fechado!
O Velho nem parecia tão velho assim. E era gente fina. Não me deu nenhum tapa desde que cheguei. Parecia tipo um daqueles tiozinho de meia idade que quer parecer bonitão. Na verdade só tinha uma 'bonita' barriga de choppe, uma 'bonita' cabeleira preto e branco e duas entradas 'bonitas' na testa que pareciam ter sido carrinho de jogador de futebol. Ri sozinho.
- Tá rindo de mim, Mutley? - e 'pá', o velho quebrara o silêncio e o pé da minha orelha..
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