terça-feira, 27 de novembro de 2007

Meu maldito mundinho cinéfilo-consumista

Meu primeiro contato com um filme doméstico, foi quando em 1982 meu pai comprou um videocassete de 2 cabeças e junto com o aparelho ele locou o filme "Conan, o bárbaro", da única locadora que existia em Brasília, lá no Gilberto Salomão. Meu pai, ainda bem, não tinha o juízo perfeito, e não ligava o fato de eu ter 8 anos na época, e meteu a fita no VHS para o início da carnificina e cenas eróticas que o filme continha. Em seguida a gente viu "Alien, o oitavo passageiro" e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" e foi a apartir desses filmes introdutórios que me tornei um cinéfilo inveterado.

Em 1987 eu iniciei minha coleção de filmes VHS "originais", porque até então eu só tinha fitas com gravações de filmes pela tv (ficava nervoso com o controle remoto na mão pra pausar a gravação quando entrava os comerciais). Minha primeira aquisição foi o filme De Volta para o Futuro lançado na época pela CIC Vídeo. Foi com o dinheiro da minha mesada e troco de padaria que veio outras pérolas que enchiam a prateleira da sala como os do Charle Bronson (Desejo de Matar) e Chuck Norris (Comando Delta e Bradock). Já no inicio de 2001 eu tinha uns 400 VHS selecionadíssimos, filmes que comprava de locadoras em processo de falência, eu era um adolescente-nerd-doente-cinéfilo-maldito.

Então eu tive a minha primeira depressão quando chegou o tal do DVD, com as imagens cristalinas e som digital. E pensei: "Caralho vou ter que re-comprar todos os filmes de novo, não acredito nisso!". Foi difícil superar o impacto ao ver pela primeira vez, um filme inteiro cabendo dentro de um cd. Comprei meu primeiro aparelho, um JVC que custava na época 900,00 e em seguida a cada lançamento eu ia substituindo os VHS´s, e o pior agora é que eu já tinha uma boa renda e parte do meu salário se destinava a compra dos DVD´s. Cheguei a ter então mais de 400 DVD´s, todos originais. Então minha esposa me disse:

- Gory, você está doente, isso não é normal, tem filme aqui que você nunca abriu a embalagem.
- Existirá um momento certo para ver esse filme. Ainda não é a hora.

Então em 2002 eu comprei uma TV Widescreen (16:9) com resolução de 720 linhas e um som Home-theather 5.1 pra poder usufruir de todos os recursos que a tecnologia do DVD pode oferecer. Então saíram as tvs de plasma e em seguida as de LCD de alta-definição que na minha opinião não serviam pra nada, porque os DVD´s não tem alta-definição e as imagens ficam borradas nessas novas telas. E durante algum tempo eu fui feliz assim com as centenas de DVD´s que se proliferavam na minha videoteca.

Tudo estava correndo bem até a uns 3 meses quando visitando a Fnac, e dei de cara com o maldito aparelho Blue Ray (3.200,00) projetando um filme em uma tela de LCD de 100 polegadas (189.000,00) com suas 1280 linhas de resolução, contra as 720 linhas do DVD. E o filme que estava passando: Blade Runner versão de alta definição, filme com pré-lançamento pra janeiro de 2008 por 99,00. Falei com a minha esposa no meio da Fnac:

- Quando isso vai acabar? Vou ter que comprar isso também? Vou ter que parar de comprar DVD´s agora ? Por causa desse monstro que lançaram?

Ela me deu um tapa no rosto e disse:
- Pelo amor de Deus homem, se controla, se controla!

No caminho de volta, não vou negar que um fio de lágrima desceu da minha face, ainda lembrava eufórico das imagens de Harrison Ford correndo atrás de um “replicante”, dava pra ver o suor escorrendo entre os poros do ator. Maldita tecnologia digital sem fim !

Cheguei em casa e fiquei um bom tempo sentado no sofá, a sala escura, pensando no futuro digital e hediondo que se aproximava, já era meia-noite, quando o telefone toca. Era minha mãe, me fazendo mergulhar ainda mais em minha depressão consumista:

- Filho, esse é meu último aviso. Dê um fim nesse monte de fitas de videocassete que estão entulhados aqui na minha casa, ou amanhã eu vou chamar um carroceiro e mandar ele levar isso tudo. - desligou na minha cara.

Peguei a chave do carro e já ia saindo pela porta, quando minha esposa acordou:
- Onde você está indo ?
- Estou indo evitar uma tragédia.
- Não entendi.
- Você vai entender quando eu chegar. Só avisando, vamos ter que desocupar o quarto da empregada, amanhã pode demitir ela. E também vou cancelar a TV a cabo, nossa viagem de fim de ano e os meninos vão pro colégio público ano que vem.
- Você foi demitido ?
- Não querida. É a maldita revolução digital, não podemos ficar para trás. Não vou perder essa guerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Abobra Diário.