terça-feira, 11 de dezembro de 2007

BELO HORIZONTE: SEGUNDA-FEIRA, 11 DA MANHÃ

- Puta que pariu.
- Puta que pariu.
- Puta que pariu.

Os três falaram quase ao mesmo tempo. Pereira, o delegado, Moreira, o assistente, e eu. O viadinho ficou para trás, no camburão. "Fica aí quietinho", disse Pereira travando as portas da viatura.

O corpo do meu chefe estava nu, pendurado por cordas e com uma faca no pescoço. Fora posto pra sangrar como um porco. No fundo eu acho que o filha da puta mereceu. O cheiro de podridão estava de matar. Restavam poucas pessoas no local, como uns enfermeiros, uns bombeiros do Resgate e agora nós três. Eu nem deveria estar ali.

- Serial killer?
- Serial killer. Totalmente, meu rapaz. Está claro que é alguém que se julga o demônio.
- Cê tá assistindo muito filme americano.
- Vá se foder. Eu que dou resposta nesta merda!
- Tá, chefe, tá chefe.

Andando pela cena do crime apontei para uma coisa. Havia raspas de madeira embaixo de uma mesa.

- Mas que porra é essa? É poeira do hotel!
- Delegado... ahn... - abaixei-me e olhei a mesa por baixo. Havia um escrito. - Vire a mesa, delegado.

Ele virou.

- Puta que pariu.
- Puta que pariu.
- Eu nunca vi isso na vida!
- Nem eu. Só naquele filme...
- Para com isso, chefe!

Estava escrito, entalhado no fundo da mesa:

Crux Omni Vitae Ab Lapsus Labor Igne Nefasti Ipse

- Mahqueporraéessa???
- Mahqueporraéessa???
- É Latim, caralho!
- Eu sei, seu afrescalhado do interior! Mas que significa?
- Algo como: "A cruz da vida eterna provém do fogo do azar da falta de trabalho".
- E isso faz sentido?
- Seguindo uma linha de raciocínio básica, após os escândalos que ele fez comigo, ele foi demitido. Sendo demitido (cujo eufemismo é "azar da falta de trabalho"), ele deve ter tentado se matar (na mensagem: "fogo" e "cruz da vida eterna", que seria a morte).
- Cara, tu é esquisito mesmo. Devia trabalhar na polícia!
- Cala a boca, Moreira.

Saímos os três, deixaram os bombeiros tirarem o corpo e levarem para o necrotério. Chegando ao camburão, a bichinha estava histérica, quase sem ar, claustrofóbica, dentro do camburão. Pereira abriu a viatura e ela saiu gritando: "Eu também quero ver, eu também quero ver".

- Vá lá. Estamos indo almoçar.
- Me espera, me espera!
- Tá bom.

A bichinha foi, toda feliz. Voltou branca.

- Que foi?
- Perdi a fome...

no próximo capítulo, não perca a resolução desta merda de caso!

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