quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Como previsto

Cheguei em casa e encontrei-a deitada de forma pouco usual em sua casinha. A julgar pela rigidez cadavérica, deve ter morrido no meio da tarde. Aforante as lições já mencionadas, ela me dava a chance de ensinar à minha filha o significado da morte.
- Ela não se mexe mais, pai?
- Tá morta, filha. Ela nunca mais vai se mexer.
- Nem comer?
- Não também.
- Nem brincar comigo?
- Não.
- Por que?
- Porque tá morta, oras.
- E ela vai virar uma estrela?
- Vai, depois que o papai enterrar ela, ela vira uma estrela.
- Mas tá chovendo, vai molhar ela e ela vai ficar com gripe!
- Ela tá morta, filha!!!
- É, eu sei que ela tá quietinha, mas não é pra molhar ela.
- Tá, deixa ela ai. Depois que você acordar, ela já vai ter virado uma estrela.

Porra, chovendo pacas como estava, sem chance de me prestar a escavar o quintal para dar-lhe uma sepultura cristã. Jogar no lixo também não ia rolar, em respeito a memória da pobrezinha. Se deixar num saco até o sábado para então enterrar vai feder. Preciso achar uma solução

Cremei a pobre na churrasqueira e espalhei as cinzas no bueiro da rua.

Margarida, descanse em paz!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Abobra Diário.