quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ferreira, porteiro do Condomínio Lindomar Freire


Ferreira é o porteiro do Condomínio Lindomar Freire, composto por 2 prédios de 8 andares com apartamentos de 1 quarto, situado próximo a Vila Dimas, numa região simples do bairro de Taguatinga. Seus moradores, são na maioria classe média baixa, ou seja, ambulantes, frentistas, operários da construção civil, viciados, prostitutas, pederastas e recém chegados na capital que se agregam desesperadamente nos apartamentos alugados por parentes

Em sua cabine de porteiro, observa o vai e vem dos moradores. Já está acostumado com as noites agitadas do condomínio. A sua cabine não tem vidro a prova de bala, as câmeras de monitoramento do prédio não existem mais, e com certeza Ferreira está se lixando pra segurança do prédio. Afinal quem vai querer assaltar o Condomínio Lindomar Freire? Mesmo assim Ferreira tem a obrigação de filtrar a entrada de estranhos no condomínio. Seu salário de 450,00 lhe obriga a fazer isso.

- Me ligue no apartamento da Silvana.
- Qual o apartamento da Silvana ?
- Sei lá cara. Ela me falou que se chama Silvana, e me deu esse endereço do prédio. Só isso.
- Temos 3 Silvanas aqui. Uma senhora de 73 anos que mora sozinha no 403 B. Com certeza não é a Silvana do 102A, porque ela só tem 10 anos, e você não vai acordar ela, porque são 2 da manhã, então sobrou a Silvana do 303B.
- Deve ser essa então.

Uma voz ofegante de homem atende:
- Que foi ?
-Tem um jovem aqui querendo subir.
- Fala pra ele subir daqui uns 30 minutos. Ainda to com um cliente aqui.
- Silvana falou que é pra subir daqui 30 minutos.
- Posso esperar ai dentro ?
- Não, vai dar uma volta e aparece aqui em 30 minutos. Você não pode ficar parado em frente do condomínio. Se os PM´s passarem aqui, vão te meter porrada.

Ferreira é um homem de 39 anos, que não teve muitas oportunidades na vida, trabalhou na roça quando criança, e veio pra Brasília ainda jovem pra fugir da vida miserável, de um pai alcoólatra que abusava de suas irmãs e que adorava espancá-lo por qualquer motivo. Sua mãe, uma pobre coitada, não podia fazer muita coisa, então aceitou o que a vida lhe proporcionara: parir todo ano uma criança, ajudar na roça e agüentar a noite os devaneios de seu marido bêbado. Ele então prometeu, ir pra Brasília e voltar pra tirar a família daquela condição miserável e se vingar do pai abusivo. Mas até hoje não conseguiu fazer muita coisa, mandou somente uns trocados no Natal de 1989, e desde então não quis mais saber de sua mãe e suas irmãs.

Hoje não passa de um homem obeso com pouca instrução, fez um curso comunitário de alfabetização, que lhe deu base pra concluir um curso pra vigilante noturno. Pouco adiantou o curso, porque sua única mobilidade é levantar da cadeira da portaria pra fazer suas necessidades ou então atacar a cozinha de serviço do condomínio. Seu uniforme azul claro possui manchas abaixo das axilas, devido a quantidade excessiva de suor de seu corpo. Mesmo com sua condição física repulsiva algumas habitantes do lugar o desejam, todos os moradores o respeitam, nesses 10 anos de porteiro descobriu segredos que fez vários síndicos e sub-síndicos se jogarem aos seus pés e ainda administra negócios escusos que lhe dá um dinheiro a mais no salário do mês.

- Silvana, é o seguinte. Não vi os seus 50,00 esse mês na minha caixa de correio. O jovem aqui ta subindo, quando for descer mais tarde manda por ele a grana. Não posso subir aê, to trabalhando.

Esse é o Ferreira, porteiro noturno do Condomínio Lindomar Freire.

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