quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Saudade do abobra de dois ou três anos atrás, onde passava varias tardes de insanidade e putaria no meu serviço, daquelas sextas de postfight onde xingava quase todos, isso quando não lembrava de suas mães.
infelizmente hoje tenho que assistir a falência do abobra.
Meu Deus, será este o fim dos tempos....


Outubro 2005.

Uma outra historia:
O destino de Tião Havaiana.

Já tinha tido tanta arma que já tinha perdido a conta. A primeira , eu me lembro bem. Era um oitão de cinco tiros que o Boca Morta me vendeu. Foi ele que me disse o que fazer com um revolver:
- É o seguinte, Havaiana, tu ameaça mas só atira em ultimo caso. Tiro a gente dá em safado, mentiroso e cagueta. Agora se o sujeito ficar com boca dura, tu mata pra ele não voltar. E não fica olhando pra cara do infeliz na hora, que ele não morre direito. Gente que não morre direito depois volta pra assombrar a cabeça do vacilão...

Com o tempo, acabei trocando esse cano por um celular StarTac. Na seqüência, "fiz" uma mansão no Guarujá e descolei uma PT. Essa eu perdi, caiu da cintura num pinote. Agora to com uma PT de novo.

Escolhi essa casa pelos carros. Um sobradão gradeado com muro coberto de planta. No domingo passado, eu vi um Civic, uma BM , e um Stilo. Na noitinha da sexta feira seguinte, o boyzinho saiu com umas mochilas no Stilo. A BMW levou os coroas, com o porta malas chapado de roupa de cama. Fui ate a quermesse ali perto e dei um tempo ate chegar a hora. Perto da meia noite, liguei , pedi pra entregar uma pizza no endereço do sobradão e fui pra lá. Fiquei na esquina e observei o motoqueiro tocar a campainha. Latiu o cachorro do vizinho. O entregador olhou pra todo lado, bateu palma e nada. Fez uma ligação do celular e se mandou sem entregar a pizza. Tava limpo, e rapidinho cai pra dentro. Entrei pulando o muro. O Civic tava trancado e com o motor frio. Fui ate o fundo da casa e dei uma olhada pra ver se não tinham deixado nenhuma janela aberta. Tudo fechadinho. Nessa hora você já esta se cagando e a adrenalina correndo solta.
A coisa ficou meio complicada porque tinha uma merda de uma porta envidraçada de alumínio na entrada da cozinha. Porta de alumínio é fácil de arrombar, mas faz um barulho do caralho. A porta da frente já tava fechada quando os velhos saíram, devia estar com travas por dentro, tinha que ser pelos fundos mesmo. A fechadura era uma Aliança meia boca, facinho de abrir. Peguei a chave de fenda , calculei o lugar entre o batente e a lingüeta e forcei num tranco seco. Com o ruído, o cachorro do vizinho enlouqueceu. Me escondi e esperei alguém checar ou um alarme disparar. O cão bradava certo do que fazia. Deu uns três minutos, a luz da casa ao lado acendeu. Escutei a mulher repreender o cachorro e manda-lo deitar-se, provavelmente pensando que deveria ser o cara da pizza de novo. Contrariado, o cão se calou enquanto eu entrava na casa. A primeira coisa que acontece quando você consegue invadir um imovel, é dar uma cagada. Mesmo quando dá tudo certo, a vontade de cagar é incontrolável. Você pode ir no banheiro antes , mas não adianta, que na hora o bicho pega de novo. Depois de se aliviar (as vezes não dá tempo e você acaba fazendo no chão mesmo) , é hora checar o porta-chaves e abrir as travas de alguma janela. Faço isso, pra garantir mais de uma saída da casa, porque quando alguém chega e constata o roubo, geralmente entra pela porta arrombada. E se você ainda esta na casa, tem como sair na correria por outro lugar.
Vê as condições do lugar e calcula se alguém pode te ver do lado de fora. Nada de lâmpada acesa, luz só de fósforo ou da geladeira mesmo.
Meu apelido, Tião Havaiana, vem da mania que eu tinha de furtar casas usando chinelo. Esses chinelos não fazem barulho e serviam pra você se apoiar em muros que tem de cacos de vidros. Só que são uma merda na hora de correr, quando pinta alguma sujeira. Depois eu mudei pra esses tênis da ALL STAR, que não também não fazem barulho. E muro de caco de vidro eu não pulo mais, porque quem faz isso em muro não tem merda nenhuma pra roubar.

Destranquei a porta da frente , uma janela e fui pros quartos que é onde mora o perigo. Quando eu subia a escada, a campainha do telefone quase me mata do coração. Olhei o relógio de pulso e eram vinte pra uma, horário ruim de alguém ligar. Os donos da casa já deveriam estar dormindo nesse horário, os filhos talvez não, mas se alguém quisesse falar com eles , iriam ligar pro celular. Pizzaria não ia se dar ao trabalho pra confirmar telefone de pedido de pizza errada, mesmo porque eu tinha dado meu celular. A campainha ecoava pela casa insistente. Só se o maldito vizinho viu algo. O toque foi ate as ultimas conseqüências e depois parou sem retorno. Sinal de coisa ruim. Respirei fundo, aguardei um instante e segui pros quartos. No corredor, achei as portas dos quartos trancadas. Merda! Fui ate o banheiro social, porque tem gente que guarda chaves nas gavetas do armário. E sobre o tampo da pia, uma câmera digital e uma neceserie que algum distraído esquecera. O tempo fechou e ficou curto.

Os cinco minutos devem ter levado minha eternidade. Eu me prostrei atrás da porta do banheiro e aguardei a confirmação do ruído que me alertou há um segundo. Ouvi meu coração ecoando pela casa. O suor escorria pelo braço e molhava a coronha da pistola que já estava escorregadia. O silencio era pior que a certeza. E de novo, o ruído se fez com todas as aflições e ansiedades que podiam trazer. Eu não sabia que eram passos, sussurros ou estalos. Me apertei contra a parede, procurando uma saída que agora não aparecia. Eu nao estava sozinho.

E eu tinha que saber quem era. Se fosse a policia, eles iram me detonar aqui dentro mesmo, se fosse o dono da casa eu tinha que correr. Primeira coisa a fazer era descer as escadas e voltar pra parte debaixo da casa. Pra piorar, quem fazia o ruído, também estava se preocupando em não faze-lo à toa o que me levava a crê que estavam a procura de algo ou alguém. As luzes continuavam apagadas e eu não conseguia enxergar mais nada a minha frente. Desci devagar , olhei pra janela que havia destrancado e achei que por ali seria a melhor opção pra fuga. E ouvi em alto e bom som a voz que vinha do fundo :
- Tem gente dentro de casa!
Agora era vida ou morte. Empunhei a pistola e na base da escada calculei que agora a única chance era a porta da frente. Andei cauteloso e devagar ate a porta e fui abrir, apontando a arma engatinhada e segurando o gatilho com força, pronto pra disparar a qualquer movimento.

Cinco minutos antes, o Jorge estacionou o Stile com a namorada e a pediu para aguardar no carro. Ele chega a porta da cozinha, e vê o sinal de arrombamento.
- Tem gente dentro da casa!
Jorge trava a porta da cozinha com um cabo de vassoura e não tem certeza se aquilo impediria alguém . Sorrateiramente, ele vai agachado pela lateral da casa ate a frente e vê a porta abrir-se com estupidez

O cachorro do vizinho late alardeado pelo tiro que ecoou repentinamente. A vizinha acorda assustada e a namorada de Jorge liga do celular no carro, desesperada por ajuda.

Eu abri a porta decidido, mas tive que baixar a arma por um segundo para tanto. Olhei a face de um homem que me aponta uma pistola e sem pestanejar dispara o tiro contra mim.

Acho que acertou na minha cabeça, pois não senti meu corpo quando ele bateu sem reação no chão. Eu olhei para os olhos do estranho com vontade, cheio de vingança, mas de nada adiantou. Meu rosto virou-se num movimento final , quando vi os pés calcados com Havaianas. Por mais que eu quisesse viver, não consegui.E nem assombrei ninguém como havia dito o Boca Morta. O Jorge me matou direitinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Abobra Diário.