A escolha do passaporte é muito importante ao se deixar um país. Passaportes deixam rastros, sinais, evidencias. A comunidade européia facilitou o transito interno, a Suíça complicou. O homem vê sua senha no quadro eletrônico instalado no teto do saguão mal iluminado do Consulado Português em Zurique e junta-se ao clichê de atendimento. Abre sua pasta e entrega o envelope, não sem antes ler o nome gravado no crachá da atendente, Elisa, uma mulher bonita.
Ela é profissional, abre o envelope fechado por um cordão e despeja derramando o conteúdo de maneira inaceitável sobre a mesa:
- Bom dia...hum...passaporte suíço...hum...visto ok... - Ela ajeita o elástico dos cabelos, confere o fundo do envelope e finalmente olha para o solicitante – Falta uma foto com data.
O homem limpa os próprios ombros arrastando a ponta dos dedos sobre o terno, confere as unhas e esboça um sorriso sem abrir os lábios, tentando justificar a falta.
Srta. Elisa recolhe os documentos no envelope, enrola o cordão e o devolve , um olhar farto, uma resposta velada:
- Sinto muito. Providencie uma foto.
Saindo do prédio, uma garoa fininha, quase em pitadas, molhava o envelope que lhe cobria a cabeça, improvisando um pequeno abrigo ate o próxima cobertura ou marquise.
E ao atravessar a rua, nenhum ônibus, carro ou veiculo motorizado o atropelou. Nem mesmo um esbarrão das pessoas que andavam rápido sem guarda chuva ou dass que caminhavam olhando em desaprovo os não precavidos, afinal o noticiário avisara sobre o tempo ruim.
Essa foi mais uma incrível aventura quase submarina do homem silencioso.
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