quarta-feira, 3 de março de 2010

Domingo

“O carro parece um caminhão, responde mal nas curvas, eu tenho que antecipar a rota e segurar no braço pra seguir o traçado, o motor enche muito rápido, parece que quer vai passar por cima de mim, tem algo errado aqui e não sei o que fazer, entenderam?”

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Eu tento explicar, mas ninguém faz porra nenhuma, respondem “Ok” pelo radio e passam meu tempo de volta, “o pace car vai sair na próxima volta”, emendou alguém pela outra faixa.

Ainda tentei avisar que ia pros boxes, mas deu sombra no radio e fiquei sozinho.

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Sambei o carro e desisti em seguida, o peso era enorme em baixa velocidade, o pace car foi saindo pra direita ate sair em definitivo. Apertei o acelerador e senti o motor vibrando perto dos 12 mil , essa merda vai vibrar ate explodir, me deu calor, raiva , senti meu rosto quente, tem também uma fresta no macacão que deixa entrar um ventinho gelado, mas ainda não sei de onde é, eu quero encostar o carro e ir pra casa, vou apertar e ver se o motor abre e essa porra estoura. A rotação subiu quadrada, mas subiu, o carro tracionou feito um trem no fim da reta, meu retrovisor ficou turvo , mas ainda vi o borrão azul da Beneton, agora tem alguém tentando falar no radio, suor, vou abrir distancia, vou entrar subindo, a quinta marcha tem um jeitinho que eu já peguei, só não forçar que entra certinha, 240, sexta, 18 mil, 260, ok, estou bem, não quero mais parar, o carro fica redondo em alta, vou me descolar dele, quero ver ele me seguir por aqui...alinhamento , tenho que mandar acertar a esquerda, puxa demais...o rapaz morreu ontem, minha mãe deve estar doente comigo aqui, estou meio enjoado, agora é encher tudo e fazer a curva, me concentrar, eu e meu carro somos um, um sorriso sacana, de orgulho disso, se desenhou no meu rosto.

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A Tamburello já fiz a 300 alto, hoje não vai dar pra tudo isso, mas chego perto e com o carro desse jeito mesmo, nessa merda! Está pesado, saiu da trajetória, cutuca o freio, a frente puxa, volante ficou lerdo, freio, não, ainda não, meu pai, minha mãe, minha irmão, meu kart, meus cães, minha avó, meu irmão, minha irmã, meu pai... agora um toquinho no freio, Deus(!), vai bater!


Acelero, vibra o motor nos 12 mil, subindo rotação, puxo pra esquerda, já voltei pra pista, não vejo nada no retrovisor, estou em primeiro, me vê ganhar de novo só mais uma vez.

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