sexta-feira, 17 de março de 2006

02.

Durante o dia fiquei pensando em morte. Mas não foram pensamentos ruins. Penso na morte como uma libertação, não o fim de tudo. Meio clichê falar sobre isso, mas não é todo dia que vejo pessoas mortas caídas no meu caminho. Saiu uma notícia na Internet sobre a adolescente morta, se chamava Adriana e aparentemente foi estuprada, mas a causa do óbito ainda não foi revelada.

Indo agora de manhã de novo para o metrô, passei perto de onde foi encontrada a garota, achei estranho ver todo aquele mato agora cortado. Passei rápido, e fui pra estação, estava atrasado. Durante a viagem de 20 minutos de metrô que sai do meu bairro até o centro de Brasília, tentei pensar em outra coisa enquanto meu player de mp3, tocava um álbum inteiro do Smashing Pumpkins.

Gosto de andar de metrô. É menos desconfortável que ônibus e mais rápido se resolvesse ir de carro. Gosto de silêncio. As pessoas normais não conversam no metrô, elas olham umas as outras e tentam fingir que não se olham. Foi então que aquele sentimento fúnebre invadiu minha imaginação. Visualizei o metrô de encontro com um outro no mesmo trilho, o silêncio então teria fim, alguns morreriam instantaneamente, outros agonizariam presos nas ferragens, alguns a caminho do hospital e os mais afortunados e desfigurados sobreviveriam a catástrofe e levariam pra sempre as marcas do infortúnio. Imaginei também um avião caindo, e os passageiros olhando pela janelinha e o chão se aproximando cada vez mais. Seria melhor se o chão fosse um oceano ? Ou então uma selva fechada ? Quem sabe uma isolada montanha coberta de neve a 4 mil metros de altitude. Enfim, quando um avião cai, a morte é mais óbvia. E pensar que as pessoas no mundo morrem mais de câncer e ataque cardíaco, uma maneira meio fudida de se morrer. Se for pra morrer que seja de morte natural, sem dor, com saúde e lúcido. Acordaria numa manhã com meus 88 anos e avisaria a todos "Pessoal, hoje a tarde estarei morrendo. Não se preocupem porque já providenciei o caixão e a papelada burocrática com a funerária e já paguei as prestações de minha cova no cemitério pelos próximos 50 anos". Todos me agradeceriam e então esperaria a hora do meu cochilo eterno.

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